Chega ao fim o ano que dediquei a Dom Dinis, criando este blogue. Não teve grande impacto, mas agradeço a todos os que vieram aqui espreitar.
O ano chega ao fim, o blogue chega ao fim.
Desejo a todos um bom 2017!
Chega ao fim o ano que dediquei a Dom Dinis, criando este blogue. Não teve grande impacto, mas agradeço a todos os que vieram aqui espreitar.
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Desejo a todos um bom 2017!
Depois das Cortes de Lisboa, em Outubro de 1323, em que as pretensões do príncipe herdeiro foram desleixadas, este retirou para Santarém, reunindo os seus apoiantes e decidido a apoderar-se do trono à força, conquistando Lisboa.
Auxiliado pelos filhos bastardos Afonso Sanches e João Afonso, Dom Dinis tomou posição no campo de Alvalade (ou, segundo José Mattoso, no lugar chamado Albogas, perto de Loures).
Estava tudo a postos para a batalha final da guerra civil, quando esta foi impedida por intervenção de Dona Isabel.
Imagem daqui
Relato de Dom Gonçalo Pereira, bispo de Lisboa:
«Vieram acordar-me a meio da noite, disseram-me que a rainha se encontrava ali no meu paço e me queria falar. Disse-me:
- Dom Gonçalo, temos de impedir a batalha prestes a acontecer no campo de Alvalade, pois saldar-se-á num horrível banho de sangue! Estava eu a meio das minhas rezas, quando Deus me fez ver a desgraça: os corpos mutilados, os gritos desesperados dos feridos… E uma voz suplicou-me que me interpusesse entre os dois exércitos, acompanhada do mais alto representante de Deus que pudesse encontrar. Aqui em Lisboa sois vós, eminência!
- Mas que podemos nós os dois fazer contra dois exércitos, minha santa senhora? Sem armas, sem soldados que nos acompanhem… Seremos chacinados!
Ela replicou, cheia de serenidade:
- A voz garantiu-me que nada nos sucederá, se levarmos esta cruz!
Mostrou-me o objeto que os seus criados transportavam e, quando me admirei do tamanho, ela replicou que era para ser vista ao longe.
Ainda me recordo de pensar que Dona Isabel teria endoudecido, quando senti uma força misteriosa apoderar-se de mim! Parecia vir do brilho dos olhos da rainha, uma força que me impedia de a contradizer. Fizemo-nos ao caminho, no escuro da noite fria, acompanhados apenas pelos serviçais que transportavam a cruz e as lanternas. Ao acercarmo-nos do campo de batalha, já ao nascer do sol, Dona Isabel disse que só eu e ela estaríamos protegidos das setas pelas forças divinas, os criados teriam de procurar abrigo. Eu retorqui que, na minha idade, jamais conseguiria carregar com uma cruz daquelas, mas ela disse:
- Pegai nela, Dom Gonçalo, e vede como Deus a faz leve!
E tinha razão! Logrei pegar na cruz e erguê-la! Se não o houvesse experimentado, nunca acreditaria. Mas ainda perguntei à rainha:
- E quem guiará o meu cavalo? Fico sem mãos livres para as rédeas…
- Deus - respondeu ela. - Tende Fé, eminência!
A minha montada seguia a de Dona Isabel como se realmente alguma força a guiasse, nem sequer se assustava com a zoada das setas, que voavam em arco por cima de nós. O mesmo não se podia dizer de mim. Confesso que nunca senti tanto medo na minha vida e bradei para a rainha:
- Morreremos, é o nosso fim!
- Fechai os olhos, Dom Gonçalo, e rezai!
- Fechar os olhos? Mas como saberei para onde ir?
- Rezai, Dom Gonçalo, e confiai em Deus!
Obedeci, nada mais me restava. E dei por mim com a cabeça encostada à cruz, a confessar os meus pecados, suplicando absolvição, tão convencido estava que chegara a minha hora. Não faço ideia quanto tempo assim estive, só sei que dei conta do silêncio que se havia apoderado de todo o campo. O meu cavalo parou, sem que lhe houvesse dado qualquer ordem. Abri os olhos e vi os vossos cavaleiros e os do príncipe virem ao nosso encontro. Chegaram no momento certo, pois comecei a tremer violentamente e a cruz pôs-se-me de repente tão pesada que, não fossem eles, tê-la-ia deixado cair ao chão. E só deixei de tremer aqui na vossa tenda».
Não foi, porém, estabelecido nenhum acordo de paz. A pedido da mãe, o príncipe terá concordado em desistir dos seus intentos, mas declarando que não mais desejaria falar com o pai, nem encontrar-se com ele, pelo que retirava para Santarém.
Dom Dinis, no entanto, dirigiu-se àquela cidade, em Fevereiro de 1324, sofrendo grande humilhação, quando as portas se lhe mantiveram fechadas. Houve duros combates, mas conseguiu-se um acordo entre o rei e o príncipe a 26 de Fevereiro. Dom Dinis comprometeu-se a aumentar as rendas do filho e a retirar o cargo de mordomo-mor ao bastardo Afonso Sanches.
Dom Dinis morreria a 7 de Janeiro de 1325, dia em que seu filho Afonso foi aclamado rei de Portugal, o quarto desse nome.
O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook, por exemplo, na LeYa Online, na Wook, na Kobo e na Amazon (pagamento em euros); Amazon (pagamento em dólares).
No Brasil, está disponível na Livraria Saraiva e na Livraria Cultura.
Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.
Dom Afonso III na Viagem Medieval de Santa Maria da Feira 2015
Em Dezembro de 1245, Dom Afonso Conde de Bolonha desembarcou em Lisboa, a fim de tomar conta do reino, caído em desordem sob a regência de seu irmão Dom Sancho II. Dom Afonso, que vivia em França há vários anos, satisfazia assim o pedido de uma delegação portuguesa que se deslocara a Paris em busca de ajuda. Possuía o apoio dos concelhos do Centro e do Sul e dos castelos de Santarém, Alenquer, Torres Novas, Tomar e Alcobaça.
Seguiu-se uma guerra civil, que acabou com a deposição de Dom Sancho II.
Dom Afonso, o terceiro desse nome, seria o pai de Dom Dinis. O seu irmão Sancho morreu no exílio, em Toledo, a 4 de Janeiro de 1248.
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A 29 de Novembro de 1314, morreu o rei francês Filipe IV o Belo, o monarca que suprimiu a Ordem do Templo. Com a sua morte, neste ano, cumpria-se a profecia de Jacques de Molay, Mestre dos Templários franceses.
Ler sobre o fim dos Templários.
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Verifica-se este mês o 720º aniversário dos forais de Sabugal, Castelo Rodrigo, Castelo Bom, Almeida e Vilar Maior, concedidos por Dom Dinis, numa altura, em que estes lugares pertenciam ainda ao reino de Leão. Depreende-se que já teriam sido prometidos ao Rei Lavrador. A sua integração no reino português foi ratificada cerca de um ano mais tarde, no Tratado de Alcañices.
- Que se passa?
Isabel respondeu num sussurro:
- Tive um sonho…
- Um pesadelo?
- Não sei… Uma mensagem… Ou uma premonição…
Mais uma? Dinis fez esforço por vencer o enfado, pois haveria uma razão forte que a trouxera ali, numa noite tão fria. Acabou por dizer:
- Sentai-vos e contai-me o que vos atormenta!
Isabel assim fez. Depois de pousar a vela sobre a mesinha ao lado da cama, iniciou o seu relato:
- Há cerca de uma semana, andando para os lados da Azambuja, deparei com um eremita à beira da estrada. Parecia muito perturbado e eu desmontei da minha mula e perguntei-lhe se havia mister do meu auxílio. Ele não respondeu, limitou-se a fixar-me numa tristeza infinita. Já tratei de muitos enfermos e assisti a muitas aflições, mas nunca vira olhos tão tristes. Insisti na minha pergunta. Depois de me fixar durante mais alguns momentos, ele abanou a cabeça e afastou-se de mim sem uma palavra.
Isabel baixou a cabeça e prosseguiu:
- Não mais olvidei aquele olhar. Passado uns dias, tornei ao local, a fim de o procurar. Mas não o encontrei. Perguntei por ele nas aldeias da região, descrevendo-o o melhor que podia. Ninguém parecia conhecê-lo. Indicaram-me alguns eremitas que por ali viviam e fui ter com eles. Mas nenhum era o que eu havia visto. O homem parecia ter-se esfumado, ou sido engolido pela terra… Tentei olvidá-lo. Mas hoje…
Começou a tremer mais violentamente:
- Sonhei com ele…
- Ora, ficastes impressionada com a sua figura…
- No sonho, ele falou comigo. E disse-me… - Olhou-o, muito trágica: - Que Constança havia morrido!
A 18 de Novembro de 1313 morreu a rainha Dona Constança de Castela, antiga infanta portuguesa, filha de Dom Dinis e Dona Isabel, com apenas 23 anos.
Para mais informações sobre Dona Constança ver o texto publicado a propósito do seu nascimento.
Nota: não encontrei nenhuma representação de Dona Constança. Deparei, nas minhas pesquisas, com esta imagem de Sansa Stark, uma personagem d'As Crónicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin. Decidi usá-la porque se aproxima muito da Constança que descrevo no meu romance.
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A 12 de Novembro de 1288 foi redigida, em Montemor-o-Novo, a carta ao papa Nicolau IV, pedindo autorização para a criação do Estudo Geral das Ciências em Lisboa (percursor da Universidade). Além de Dom Dinis, assinaram a carta o abade do mosteiro de Alcobaça, os priores de Santa Cruz de Coimbra e de São Vicente de Lisboa e os superiores de vinte e quatro igrejas e conventos do reino. Suplicaram a aprovação e «confirmação de uma obra tão pia e louvável», já que o Estudo Geral devia albergar estudantes sem posses para irem estudar em universidades estrangeiras.
O Estudo Geral das Ciências de Lisboa é aprovado pelo papa em Agosto de 1290.
Terá sido igualmente nesta altura que Dom Dinis resolveu usar o Português nos documentos oficiais da chancelaria, normalmente redigidos em latim ou em galaico-português, a língua que se falava no início da fundação do reino, que era ainda igualmente usada na poesia trovadoresca.
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Pedro III de Aragão
Por Manuel Aguirre Y Monsalbe, 1854
Imagem Wikipedia
A 2 de Novembro de 1285 morreu o rei Dom Pedro III de Aragão, denominado o Grande, pelas suas conquistas militares, com apenas quarenta e seis anos. Dom Pedro III era o pai da rainha Santa Isabel. Não sabemos qual o efeito que o acontecimento teria causado em sua filha, que já estava em Portugal há dois anos e meio. Segundo a tradição, Dona Isabel era muito chegada ao pai, palavras que tudo e nada dizem. No entanto, considerando que Dona Isabel estava ainda a dois meses de completar quinze anos e seria dona de um carácter sensível, eu criei esta cena no meu romance:
De repente, os alões deitados em frente à lareira levantaram-se, a ladrar como doidos. Dinis bradou:
- Mas que vem a ser isto?
- Virá por aí alguém? - sugeriu Pêro Anes Coelho.
- A esta hora? Num tempo destes?
Dinis virou-se para Isabel e assustou-se: a cor sumira das suas faces, a rainha apresentava uma palidez cadavérica, uma das mãos agarrava o vestido à altura do peito. O monarca inquiriu:
- Que tendes? Não vos sentis bem?
Isabel apontou-lhe olhos aterrorizados:
- Uma desgraça sucedeu!
- Que dizeis?
- As más novas não tardarão!
Apesar de assustado, Dinis não queria conceber a ideia de que o momento doce e mágico terminara. Aquela noite pertencia-lhes, não lhes podia fugir! Pegou-lhe nas mãos, invulgarmente gélidas, e acrescentou:
- Enganais-vos! Quem viria a esta hora dar-nos más notícias? Os cães ficaram nervosos com o uivar dos lobos, é só.
Isabel fixava-o angustiada. E, de repente, irromperam na sala dois cavaleiros com os seus capotes cobertos de neve. Isabel começou a tremer, mas Dinis teve de a largar para ir ajudar Pêro Anes Coelho e João Anes Redondo a segurar os alões, que ameaçavam despedaçar as vestes dos recém-chegados.
- Quem sois? - bradou o rei. - Que fazeis aqui? Porque vos deixaram entrar?
- Vimos de Aragão, Alteza!
- Meu Deus! - gritou Isabel.
Levantou-se, foi ao encontro deles e os cães acalmaram-se como por encanto. Dirigiu-se mortificada aos cavaleiros:
- Trata-se de meu pai, não é verdade? Que lhe sucedeu? Dizei! Dizei!
- Lamentamos ter de vos informar que el-rei Dom Pedro III se finou no passado dia 2 deste mês de Novembro.
Gerou-se um silêncio sepulcral. Até que se ouviram mais uivos. Isabel desfaleceu de encontro a Dinis, que guisou de a segurar nos braços. Aquele corpo, leve como uma pena, que ainda há momentos emanava calor, envolvido num vago perfume a rosas, estava agora inanimado e frio. Como se ela própria houvesse morrido…
Carregando-a nos braços, Dinis desceu a escada exterior da torre de menagem e caminhou pela neve que lhe chegava às canelas. Pêro Anes Coelho, que os seguira, bateu à porta da casa da rainha, arrancando as damas e as camareiras do seu sono, que mais sobressaltadas ficaram, ao dar com Isabel desfalecida nos braços do rei.
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Em Outubro de 1324, Dom Dinis fez-se ao caminho de Santarém, como de costume. Tinha-se tornado um hábito passar o Natal e o fim do ano naquela cidade, só regressando a Lisboa na Primavera. Naquele ano, porém, Dom Dinis fora desaconselhado a empreender a viagem, pois estava muito doente. A rainha Dona Isabel tratava dele, administrando-lhe pessoalmente os remédios.
Pormenor da estátua de Dom Dinis, em Coimbra
Durante a viagem, Dom Dinis sentiu-se tão mal, que Dona Isabel mandou chamar o filho Dom Afonso, que se encontrava em Leiria. Depois de uma desgastante guerra civil, o rei e o seu herdeiro haviam assinado as pazes a 26 de Fevereiro daquele ano. A guerra terminara, mas, a nível pessoal os dois continuavam desentendidos, não se falavam e evitavam encontrar-se. Por isso se quedava Dom Afonso em Leiria.
Vendo o pai em tão mau estado, porém, o infante tudo fez para cuidar dele e, com a sua ajuda, Dom Dinis chegou a Santarém, onde melhorou um pouco. Mas o destino do Rei Lavrador estava traçado. Sentindo a morte aproximar-se, fez o seu terceiro e último testamento a 31 de Dezembro. Morreria a 7 de Janeiro de 1325.
Imagem encontrada aqui
Cinco dias antes, Dona Isabel tinha declarado querer usar o hábito de Santa Clara até ao fim da sua vida, em sinal de viuvez e humildade, desejando ser sepultada com ele. Depois da morte de Dom Dinis, passaria inclusive a viver no convento de Santa Clara, em Coimbra, embora nunca tenha professado. A 22 de Dezembro de 1325, a rainha fez um segundo testamento, onde exprime o desejo de ali ser enterrada, embora o seu marido repousasse no mosteiro de Odivelas. Dona Isabel morreu em Estremoz a 4 de Julho de 1336 (onze anos depois de Dom Dinis). O seu corpo foi transportado para Coimbra, como havia sido seu desejo.
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