Durante este ano, assinalarei aqui acontecimentos importantes do reinado de Dom Dinis, à medida que forem acontecendo os respetivos aniversários, assim como transcreverei excertos do meu romance sobre o Rei Lavrador.

28
Fev 16

Faz hoje 757 anos que nasceu a Infanta Dona Branca de Portugal, a irmã mais velha de Dom Dinis, primeira filha de seus pais Dom Afonso III e Dona Beatriz de Castela. Recebeu o nome da tia do pai, Branca de Castela, regente em França durante a menoridade do filho Luís IX.

 

Dona Branca recebeu de seu avô Afonso X de Leão e Castela a herança de 100 000 marcos, que lhe deveria servir de dote. Porém, a infanta teve uma doença grave, pouco depois da morte do avô, prometendo dedicar a sua vida ao mosteiro de Las Huelgas de Burgos, caso sobrevivesse. Assim aconteceu e Dona Branca usou o dote na reconstrução do mosteiro.

 

Apesar de ter vivido longe de Portugal, a infanta manteve o contacto com o irmão Dinis, auxiliando-o em várias situações, nomeadamente, servindo de mediadora entre o rei e o irmão mais novo, nas revoltas que este levou a cabo (por três vezes se insurgiu contra o irmão rei).

 

Manesse G 9.jpg

 

 Dinis dirigiu-se à irmã Branca:

- Esta agradável, mas inesperada visita tem com certeza a ver com o nosso irmãozinho…

- Claro. Vim com a mãe de Burgos para acabar com este absurdo!

Dinis ergueu as sobrancelhas:

- A mãe?

- Afonso mandou-lhe recado, pedindo-lhe que intercedesse. Aguarda, porém, em Badajoz.

Dinis sentiu a fúria crescer dentro de si. Apanhado num beco sem saída, Afonso chamava a mãe, que intercedesse por ele!

- Mas quando começará Afonso a arcar com as suas responsabilidades? Porque não vem ele ter comigo, arrependido, mas mantendo a sua dignidade, a fim de se render? Já em Vide foi a mesma cousa! Acaso receia que eu lhe faça algum mal?

- Não se trata de receio, mas sim de orgulho ferido. Custa-lhe rebaixar-se-vos, prefere que digam que o faz por intercessão de terceiros.

- Mas eu sou o seu soberano!

- Bem sabeis que ele sempre vos invejou.

- Entendo a sua posição e tento cumprir o pedido do pai, que o ajude e proteja… Mas eu não posso mudar aquilo que Deus decidiu! E como posso ajudá-lo e protegê-lo se ele me afronta a todo o instante?

Branca suspirou:

- Tentai ter paciência…

- Não é questão de paciência da minha parte, mas de coerência da parte dele. De responsabilidade! - Dinis fixou a irmã: - Ele nunca conseguirá arrancar-me do trono! Tenho o reino nas mãos, não passa pela cabeça de ninguém rebelar-se contra mim.

- Eu sei, a vossa fama já se espalhou por toda a Hispânia. O povo português segue-vos, adora-vos!

 

Branca não professou, mas ficou conhecida como uma das maiores benfeitoras do mosteiro de Las Huelgas de Burgos, onde ficou sepultada. Apesar de não ter casado, terá tido uma relação amorosa com o mestre carpinteiro responsável pelas obras do mosteiro, tendo dado um filho à luz, que foi incluído na nobreza castelhana.

A infanta Dona Branca morreu a 17 de Abril de 1321. A sua sepultura ainda hoje pode ser visitada em Burgos.

 

O excerto é do meu romance sobre Dom Dinis que pode ser adquirido na LeyaOnline por 6,99 € (clique).

Cover neu3 Dom Dinis 100.jpg

 

publicado por Cristina Torrão às 11:24

27
Fev 16

Odivelas Cab 1.jpg

 

 

 

Faz hoje 721 anos que Dom Dinis fundou o Mosteiro feminino cisterciense de Odivelas.

 

A 27 de Fevereiro de 1295, deu-se lugar à cerimónia do lançamento da primeira pedra do mosteiro de São Dinis, em Odivelas, uma planície atravessada por um riacho e entre três pequenos montes: Luz, Togais e São Dinis. Seria construído um imponente edifício, que abrigaria cerca de oitenta monjas pertencentes à Ordem de São Bernardo, tal como os frades de Alcobaça.

Dinis presidiu à cerimónia, juntamente com a rainha e os dois filhos, e doava ao mosteiro todos os bens que possuía em Odivelas: vinhas, pomares, hortos, moinhos e azenhas, além de uma capela, casas e edifícios, onde a comunidade viveria durante a construção do convento. Também lhe doava outros bens na Charneca, em Pombeiro, Xabregas e Alenquer, incluindo o padroado da igreja de Santo Estêvão daquela vila. E, abrindo uma exceção nas leis de desamortização que ele próprio promulgara, autorizava a nova instituição a herdar os bens de raiz das suas monjas.

No seu discurso, o monarca referiu que aquele mosteiro seria construído

 

especialmente em honra e louvor de São Dinis e de São Bernardo, pelas nossas almas e dos Reis que antes de nós foram, e em remissão dos nossos pecados e dos nossos sucessores, fundamos e fazemos de novo em a nossa câmara de morada, que nós havíamos no termo da nossa cidade de Lisboa, no lugar que é chamado de Odivelas.

 

Dom Dinis foi sepultado neste mosteiro e, mais uma vez, aproveito para lembrar que o seu túmulo se encontra bastante deteriorado, situação para a qual a página do Facebook Vamos salvar o túmulo do rei D. Dinis chama a atenção.

 

O meu romance sobre Dom Dinis pode ser adquirido na LeyaOnline por 6,99 € (clique).

Cover neu3 Dom Dinis 100.jpg

 

publicado por Cristina Torrão às 10:58

26
Fev 16

Faz hoje 708 anos que Clemente V autorizou a transferência do Estudo Geral para Coimbra, cerca de um ano depois de ter sido feito o pedido (ver aqui). O Estudo Geral das Ciências, percursor da Universidade, foi fundado em Lisboa, em Agosto de 1290, mas Dom Dinis decidiu transferi-lo para Coimbra cerca de dezassete anos mais tarde.

 

           No início de 1306, Dinis reuniu-se com o arcebispo de Braga e o bispo de Coimbra, a fim de tratar de um assunto que não tolerava mais adiamentos: a transferência do Estudo Geral para Coimbra. A situação em Lisboa tornara-se insustentável, os escolares não mais haviam parado com os seus protestos e os conflitos iam-se agravando, afetando, não só grande parte da população, como os visitantes! Ao porto de Lisboa chegavam frequentemente galés estrangeiras e os estudantes, no seu descontentamento, abusavam da imunidade que Nicolau IV lhes concedera, envolvendo-se em toda a espécie de rixas.

            O Estudo, porém, teria de ser preservado, Dinis via a necessidade de formar especialistas portugueses, sobretudo em leis. Coimbra parecia ser a solução ideal, era bem mais sossegada do que Lisboa e o rei planeava criar lá um burgo, adjacente à alcáçova, exclusivamente destinado aos estudantes. Além disso, o mosteiro dos Cónegos Regrantes de Santa Cruz, com a sua biblioteca, estaria em condições de lhes dar o mesmo apoio do de São Vicente de Fora, fundado por Afonso Henriques precisamente em homenagem ao de Santa Cruz de Coimbra.

            Dom Estêvão Anes Bochardo, o chanceler-mor do reino, que era igualmente bispo de Coimbra, regozijava-se com a transferência. A colaboração de Dom Martinho Peres de Oliveira, arcebispo de Braga, era imprescindível, pois a medida teria de ser aprovada por Roma.

 

A Universidade haveria de trocar de local, sempre entre Lisboa e Coimbra, durante alguns séculos.

 

O meu romance pode ser adquirido na LeyaOnline por 6,99 € (clique).

Cover neu3 Dom Dinis 100.jpg

 

publicado por Cristina Torrão às 10:46

25
Fev 16

Cover neu3 Dom Dinis 100.jpg

Uma das dificuldades em escrever um romance histórico é enquadrar a informação histórica no enredo, doseando-a. O meu romance sobre Dom Dinis revelou-se particularmente difícil, porque o afã legislativo do Rei Lavrador foi notável.

O livro foi editado em 2010. Passados cinco anos, tornei a pegar no texto e achei-o bastante maçudo. Em muitos passos, a informação histórica afogava o enredo, noutros, atrasava-o, tornando a leitura fastidiosa.

Passei os últimos quatro meses a reler, corrigir, modificar, apagar, reestruturar...

E posso finalmente anunciar a reedição revista e melhorada de Dom Dinis - a quem chamaram o Lavrador, com nova capa.

 

Está disponível sob a forma de ebook na LeYa online, por 6,99 € (clique).

 

Em breve, estará igualmente disponível noutras plataformas, como Wook, Fnac.pt, Amazon, Apple Store, Barnes & Noble, Gato Sabido, IBA, Kobo, Livraria Cultura, Submarino.

 

 

publicado por Cristina Torrão às 11:02

21
Fev 16

Faz hoje 695 anos que Dom Dinis mandou elaborar uma ata curiosa, assinada por testemunhas de alta guisa e autenticada por um escrivão: nela ficaram descritas as características de um solho descomunal pescado no Tejo, perto de Santarém!

 

Tal documento intriga os historiadores que se perguntam em que circunstâncias terá ocorrido a sua elaboração. Sendo comummente aceite que Dom Dinis era dado aos prazeres da vida, criei a seguinte cena no meu romance sobre o Rei Lavrador:

 

Pauta e Músicos.jpg

 Fonte da imagem

 

A cantiga acabou entre aplausos e gargalhadas estrondosas e os convivas reclamavam a sua repetição, quando um criado anunciou que Dom Guedelha, o rabi-mor do reino, pretendia falar com el-rei, pois tinha um colosso de peixe para lhe mostrar! Curioso, Dinis mandou-o entrar e Dom Guedelha surgiu acompanhado por quatro serviçais, que se viam aflitos para carregar um solho descomunal acabado de retirar do Tejo.

- Assim que lhe pus os olhos em cima - afirmou o judeu, - disse para a minha gente: ala a mostrá-lo a el-rei, que nunca na sua vida viu tal!

- E não é que é verdade? - concordava Dinis, dando uma palmada na coxa. - Estais de parabéns, Dom Guedelha! Pegai numa taça e bebei connosco!

Depois de se inclinar numa vénia, o rabi-mor pegou agradecido numa taça, que logo um pajem encheu de vinho. Os fidalgos começaram a comentar as dimensões do colosso: na boca, caberia um raposo inteiro e, desde aí, até à cauda, contavam-se, no espinhaço, trinta escamas do tamanho de conchas. Constatou-se ainda que o peixe media dezassete palmos e meio de comprimento e sete de grossura. El-rei quis saber quanto pesava e sugeriu que se deslocassem à adega, onde se encontrava a balança.

- Vamos todos - dizia ele, - pois é ver para crer. Um colosso destes merece testemunhas de peso!

Os fidalgos, rindo da piada que acharam oportuna, condescenderam, levando as suas taças na mão. O alferes-mor João Afonso, que mal se aguentava em pé, ia ainda a pegar numa jarra cheia, quando o cunhado de la Cerda lhe disse:

- Homem, deixai aqui a jarra, que ainda derramais o vinho pelas escadas abaixo!

Estas palavras arrancaram mais gargalhadas, que aumentaram de tom às palavras do falcoeiro Afonso Fernandes de Baião:

- Onde já se viu? O homem tem medo de morrer à sede numa adega cheia de pipas!

Em passos trôpegos e no meio de grande algazarra, lá chegaram ao destino. Depois de se pesar o peixe, pasmaram: dezassete arrobas e meia, pelos pesos de Santarém!

Todos juravam nunca haver visto cousa assim e Dinis ordenou que o fenómeno ficasse registado. Mandou procurar um escrivão que estivesse sóbrio. E logo ali se elaborou uma ata, onde se registaram as medidas e o peso do solho, confirmadas pela assinatura de todos os presentes.

publicado por Cristina Torrão às 11:47

19
Fev 16

Manesse P 3.jpg

 

Como justificareis a minha morte perante Deus? Pois que me matastes a mim, cujo único mal é o grande amor que vos tenho, que não há amor maior, e por vós morrerei. Essa será a única razão que Lhe podeis dar da minha morte, não O podereis enganar, que Ele bem sabe quanto vos amo e que nunca mereci que de vós me adviesse a morte. Por tal injustiça, nunca d’ Ele obtereis perdão, pelo que sereis condenada, quando todos formos diante d’ Ele.

Que razom cuidades vós, mia senhor,
dar a Deus, quand’ ant’ El fordes, por mi
que matades, que vos nom mereci
outro mal senom que vos hei amor
aquel maior que vo-l’ eu poss’ haver,
ou que salva lhi cuidades fazer
da mia morte, pois por vós morto for?

Ca na mia morte nom há razom
bona que ant’ El possades mostrar,
desi nom o er podedes enganar,
ca El sabe bem quam de coraçom
vos eu am’ e nunca vos errei;
e por em quem tal feito faz bem sei
que em Deus nunca pod’ achar perdom.

Ca de pram Deus nom vos perdoará
a mia morte, ca El sabe mui bem
ca sempre foi meu saber e meu sem
en vos servir. Er sabe mui bem
que nunca vos mereci por que tal
morte por vós houvesse, por em mal
vos será quand’ ant’ El formos alá.

 

Imagem Codex Manesse

publicado por Cristina Torrão às 10:54

16
Fev 16

DinisCoimbra.jpg

 

Faz hoje 737 anos que Dom Dinis foi aclamado rei de Portugal, com apenas dezassete.

Neste mesmo dia, morreu seu pai Dom Afonso III, sendo sepultado em São Domingos de Lisboa. Dez anos mais tarde, foi trasladado para Alcobaça.

 

 

Também a 16 de Fevereiro, mas doze anos antes, foi assinado em Badajoz o documento que legitimou para sempre a integração do Algarve em Portugal.

 

Dom Afonso III conquistara as praças do Algarve com a ajuda da Ordem de Santiago, cujos cavaleiros portugueses estavam dependentes do Mestre castelhano. Por isso se sentia o rei Afonso X de Leão e Castela com direito a exigir vassalagem ao monarca português por esse território.

Conquista de Loulé.jpg

 Conquista de Loulé, Luís Furtado

 

Os primeiros passos para a resolução do problema foram dados em Maio de 1253, quando Dom Afonso III, ignorando o seu casamento com Matilde de Bologne, desposou a filha mais velha do rei castelhano (ilegítima) Dona Beatriz. Depois do nascimento do príncipe herdeiro Dom Dinis, Afonso X de Castela enfeudou o Algarve ao neto.

 

A situação continuava a desagradar à corte portuguesa, pois, uma vez chegado ao trono, Dom Dinis deveria vassalagem ao rei castelhano por aquele território. Assim, no dia 16 de Fevereiro de 1267, em Badajoz, Afonso X concordou em renunciar a todos os seus direitos sobre o Algarve, recebendo em compensação as povoações de Aroche e Aracena, conquistadas por Afonso III em 1251. O Guadiana ficou a demarcar a fronteira entre Portugal e Leão, a partir da foz do Caia para sul, fronteira que seria modificada trinta anos mais tarde, no Tratado de Alcañices (12 de Setembro de 1297).

Afonso X.jpg

 Afonso X de Leão e Castela

publicado por Cristina Torrão às 11:15

14
Fev 16

Cover neu3 Dom Dinis 100.jpg

 

Conto reeditar, no fim deste mês, a versão revista e melhorada do meu romance sobre Dom Dinis, sob a forma de ebook, na LeYa Online. Em Maio, talvez surja uma versão em papel.

 

Para já, deixo-vos com a capa. E um excerto:

 

Num serão de Março, em que os cálices se esvaziavam num ápice, o rei encarregou os trovadores João Anes Redondo e Pêro Anes Coelho de entoarem a sua nova cantiga. Começava com um lamento dirigido à natureza: a donzela pedia às flores notícias do amigo que tardava em aparecer, receando que ele lhe houvesse mentido. O refrão consistia precisamente na pergunta: ai Deus, e onde está?

    Ai flores, ai flores do verde pino
    se sabedes novas do meu amigo!
        Ai Deus, e u é?

    Ai flores, ai flores do verde ramo,
    se sabedes novas do meu amado!
        Ai Deus, e u é?

    Se sabedes novas do meu amigo,
    aquel que mentiu do que pôs comigo?
        Ai Deus, e u é?

    Se sabedes novas do meu amado,
    aquel que mentiu do que m’ há jurado,
        Ai Deus, e u é?

 

A natureza interpelada punha fim à angústia da donzela, dizendo-lhe que o amigo estava vivo e sano e viria ter com ela dentro do prazo prometido. A simplicidade e o ritmo harmónico da cantiga pôs os convivas a cantar o refrão Ai Deus, e u é? em coro:

    Vós me perguntades polo voss’ amigo?
    e eu bem vos digo que é san’ e vivo.
        Ai Deus, e u é?

    Vós me perguntades polo voss’ amado?
    e eu bem vos digo que é viv’ e sano.
        Ai Deus, e u é?

    E eu bem vos digo que é san’ e vivo,
    e será vosc’ ant’ o prazo saído.
        Ai Deus e u é?

    E eu bem vos digo que é viv’ e sano,
    e será vosc’ ant’ o prazo passado.
        Ai Deus, e u é?


Se o fervor dos aplausos surpreendeu Dinis, maior foi o seu espanto, quando se exigiu a repetição da cantiga. Os versos não custavam a fixar e em breve todos cantavam em conjunto com os trovadores, erguendo os seus cálices na altura do refrão: Ai Deus, e u é?
(...)
No dia seguinte, os fidalgos e as damas, ao embrenharem-se pelos prados, começaram espontaneamente a entoar a cantiga do serão:

    Ai flores, ai flores do verde pino,
    Se sabedes novas do meu amigo!
        Ai Deus, e u é?


Parecia feitiço! Dinis espantava-se mais uma vez com o efeito daquela cantiga. Compunha outras bem mais elaboradas e que, embora apreciadas, asinha se olvidavam. Parecia haver magia naquelas palavras e naquele ritmo...

 

 

Nota: Embora transcritas na sua versão original, as cantigas de autoria de Dom Dinis são, no romance, enquadradas num contexto fictício.

publicado por Cristina Torrão às 11:49

11
Fev 16

Dinis e Isabel - Leiria.jpg

 

 

Estátuas de Dom Dinis e Dona Isabel em Leiria

 

 

 

 

Faz hoje 735 anos que Dom Dinis e Dona Isabel casaram por procuração.

 

O matrimónio de Dom Dinis representou um problema, pois, por desavenças entre seu falecido pai Afonso III e o clero, o reino de Portugal esteve sob interdito durante cerca de vinte anos, ou seja, as igrejas mantiveram-se fechadas, sendo proibidas todas as cerimónias religiosas e os sacramentos.

 

Assim que ficou estabelecido o consórcio com Dona Isabel, a fim de quebrar a supremacia de Castela, Dom Dinis nomeou três procuradores, que, a 11 de Fevereiro de 1281, representaram, por palavras de presente, o seu monarca na cerimónia de recebimento de Dona Isabel de Aragão, no Paço Real de Barcelona. Os três procuradores eram os cavaleiros João Pires Velho e Vasco Pires e o clérigo Dom João Martins de Soalhães, futuro bispo de Lisboa.

 

Excerto do meu romance:

Foi então com Grácia Anes que Dinis estreou os restaurados aposentos no Palácio da rua Padelo à Alcáçova. O novo soalho cheirava à madeira fresca, as paredes haviam sido caiadas e guarnecidas de novos tapetes e a alcova real resplandecia de sedas e veludos.

A gentil barregã, porém, não o encantava apenas nos momentos íntimos. Nesse Inverno, viviam-se na corte lisboeta serões cheios de música, poesia e outras atividades de bom gosto: jogava-se o xadrez, proseava-se sobre falcoaria e organizavam-se caçadas, nas quais as senhoras participavam. Grácia Anes inspirava igualmente os outros trovadores, que disputavam o seu amor platónico.

Dir-se-ia que a corte portuguesa encontrara a sua rainha… Não fosse uma mocinha aragonesa de dez anos, ainda alheia a tais sucessos. Enquanto Dinis vivia o seu romance idílico e os encantos de Grácia Anes eram cantados no Paço Real da Alcáçova, o clérigo João Martins de Soalhães e os cavaleiros João Pires Velho e Vasco Pires encontravam-se em Aragão, a fim de representarem el-rei na cerimónia de casamento por palavras de presente. A 11 de Fevereiro de 1281, no Paço Real de Barcelona, a infanta Dona Isabel de Aragão tornou-se na rainha consorte de Portugal.

 

Dona Isabel era filha do rei Dom Pedro III de Aragão e de Dona Constança da Sicília. A noiva só deu entrada em Portugal cerca de ano e meio mais tarde, sendo as bodas do par real festejadas em Trancoso, a 26 de Junho de 1282.

 

Dom Dinis e Dona Isabel estiveram quase quarenta e quatro anos casados.

publicado por Cristina Torrão às 11:36

08
Fev 16

Afonso IV Selo.jpg

 

 

 

 

 

Fonte da imagem (clique)

 

 

 

 

Faz hoje 725 anos que nasceu um dos reis mais enigmáticos da nossa História: Dom Afonso IV

 

Ficou sobretudo conhecido por ter mandado assassinar Inês de Castro, embora os verdadeiros contornos dessa conspiração permaneçam nebulosos.

 

Dom Afonso IV era filho de Dom Dinis e de Dona Isabel. Diz-se que era mau e irascível desde a infância, o que não deixa de ser curioso, sendo os seus pais um rei exemplar e uma rainha que foi canonizada. Muitas vezes me pergunto: porque não conseguiram Dom Dinis e Dona Isabel transmitir bom carácter ao filho? E porque nunca Dom Dinis se deu bem com o seu próprio herdeiro? Coisas que ficarão para sempre envolvidas na bruma dos séculos…

 

Dom Afonso IV casou com a infanta Dona Beatriz de Castela, dois anos mais nova, filha de seu tio-avô, o rei Sancho IV, e de Dona Maria de Molina. O casamento parece ter sido feliz, o que não deixa de ser estranho num homem que se julga não ter conhecido escrúpulos. Afonso IV é mesmo um caso raro entre os monarcas portugueses, pois não se lhe conhecem barregãs nem filhos ilegítimos. 

 

Terá sido dono de grande moralidade, transmitida pela mãe Dona Isabel? Isto poderia explicar a sua falta de tolerância a desvios de comportamento do seu próprio filho e herdeiro, Dom Pedro I. E também explicaria que, sendo mais ligado à mãe, se tivesse afastado do pai, que parecia preferir a companhia do bastardo Afonso Sanches.

 

A infanta Dona Beatriz de Castela, tornada rainha de Portugal por matrimónio com Afonso IV, viveu na corte portuguesa desde os quatro anos de idade. Foi criada pela sogra Dona Isabel, assim que ficou estabelecido o seu consórcio com o príncipe herdeiro, por ocasião do Tratado de Alcañices, a 12 de Setembro de 1297, onde ficaram definitivamente estabelecidas as fronteiras do reino português. 

 

Todas as informações conhecidas sobre Dom Afonso IV estão reunidas na biografia de autoria de Bernardo Vasconcelos e Sousa (Temas e Debates, 2009).

Afonso IV Biografia.jpg

 

publicado por Cristina Torrão às 10:57

Andanças Medievais
O meu outro blogue Andanças Medievais A minha página no Facebook Andanças Medievais
Informação
As minhas informações sobre Dom Dinis são baseadas na biografia escrita pelo Professor José Augusto de Sotto Mayor Pizarro (Temas e Debates 2008)
Fevereiro 2016
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9
10
12
13

15
17
18
20

22
23
24

29


pesquisar
 
Viagem Medieval
O reinado de Dom Dinis é o tema da próxima Viagem Medieval em Terra de Santa Maria
mais sobre mim
Vamos salvar o túmulo do rei D. Dinis
Uma página do Facebook que alerta para a necessidade de se restaurar o túmulo de Dom Dinis no mosteiro de Odivelas.
favoritos

Hera

História
Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
«O passado dos homens não foi só a sua vida pública. Foi também o jogo ou a luta de cada dia e aquilo em que eles acreditaram», Prof. José Mattoso
Que a História também dos fracos reze!
Não há História verdadeira sem a versão dos vencidos.
subscrever feeds
blogs SAPO