Durante este ano, assinalarei aqui acontecimentos importantes do reinado de Dom Dinis, à medida que forem acontecendo os respetivos aniversários, assim como transcreverei excertos do meu romance sobre o Rei Lavrador.

07
Mar 16

11 de Março é uma data simbólica da nossa história recente, mas também o foi há 735 anos!

 

A 11 de Março de 1281, o rei Afonso X de Leão e Castela concedeu terras e igrejas aos Hospitalários, a título de escambo, para os compensar da perda de Moura, Serpa, Noudar e Mourão. O rei castelhano pretendia doar estes lugares e vilas à filha Dona Beatriz, rainha viúva de Portugal. Dona Beatriz tinha-se refugiado na corte castelhana por desentendimentos com o filho Dom Dinis, depois de enviuvar.

 

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Imagem de Dom Dinis, publicada na História Universal da Literatura Portuguesa (2006).

 

 

 

Depois de aguardar uns momentos, Dinis inquiriu:

- As vilas de Moura, Serpa, Noudar e Mourão continuam em vosso poder, não é verdade?

- Sim, com todos os seus termos, castelos, rendas e direitos. Foi essa a recompensa de vosso avô, por eu lhe ter prestado assistência.

- Presumo então que nada tereis contra o facto de integrá-las no reino de Portugal!

Beatriz fixou-o pensativa e, assim pareceu a Dinis, um pouco acusadora. Na verdade, o rei receava que ela dissesse que ele não merecia tal, por ter abandonado o avô. Mas ela acabou por retorquir:

- Longe de mim contrariar vosso pai nessa questão.

- Meu pai?!

- Fosse ele vivo, não tenho a menor dúvida qual seria a sua vontade!

Para Dinis, aquela era uma vitória de sabor amargo. Sua mãe concordava em alargar a fronteira portuguesa para leste do Guadiana, mas, pelos vistos, não porque ele merecesse, ou por ela lhe querer dar esse gosto. Beatriz acrescentou:

- Além disso, não está apenas em causa a vossa herança. - Prosseguiu, com um esboço de sorriso: - O reino pertencerá um dia ao vosso herdeiro, meu neto. Essa é a razão mais forte para o meu regresso: pretendo acompanhar a educação e o crescimento dos infantes.

 

Foi graças a esta herança de sua mãe, que Dom Dinis pôde alargar a fronteira portuguesa para leste do Guadiana, alargamento que ficou estipulado no Tratado de Alcañices, a 12 de Setembro de 1297.

 

O excerto é do meu romance, ebook que pode ser adquirido na LeYaOnline (clique).

 

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publicado por Cristina Torrão às 18:20

A 7 de Março de 1322, Dom Dinis cercou a cidade de Coimbra, que havia sido conquistada por seu filho a 31 de Dezembro de 1321. Também Dona Isabel para lá se dirigiu, deixando o seu desterro em Alenquer, ordenado pelo próprio Dom Dinis, que a acusava de pactuar com o filho.O reino português encontrava-se em plena guerra civil, entre Dom Dinis e o seu herdeiro, futuro Dom Afonso IV, uma guerra que tanto desgastou o rei, que bem pode ter acelerado a sua morte.

 

Como se vê, havia um grande drama familiar por trás da guerra que dilacerou o reino português no início do século XIV, o que não deixa de ser estranho, tendo em conta os protagonistas: um rei culto, justo e amigo do povo; uma rainha exemplar, que foi canonizada; o filho dos dois!

 

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Pormenor da estátua de Dom Dinis em Coimbra

 

 

 

 

Vendo a derrota à frente, Dinis considerou ser Isabel a sua última esperança. Pediu para conferenciar com ela e pediu-lhe desesperado:

- Suplico-vos que guiseis estabelecer a paz sem que haja vencedor nem derrotado!

Isabel olhou-o amargurada:

- Pedis-me o impossível!

Dinis aproximou-se dela e, pegando-lhe nas mãos, insistiu:

- Intercedei junto de Deus! Diz-se que já fizestes milagres… Não o podereis tornar a fazer?

A rainha engoliu em seco e replicou:

- A graça de fazer milagres só é concedida quando Deus assim o entende, não depende da minha vontade. Sou um mero instrumento nas Suas mãos.

- Quereis dizer que nada podeis fazer por mim?

O seu desespero mortificava-a. O rei raramente lhe vira o rosto tão dilacerado pelo sofrimento e, num impulso, beijou-lhe as mãos. Ela fechou os olhos por um momento e quando os abriu, disse:

- Darei o meu melhor! Mas haverei mister de auxílio, de um mediador, a quem Afonso dê realmente ouvidos. E não me ocorre mais ninguém tão adequado como o conde de Barcelos!

Dinis estremeceu perante a menção daquele seu bastardo que ele destituíra do cargo de alferes-mor e da maior parte das suas rendas, obrigando-o ao exílio. Até àquele momento, considerara-o um traidor. Agora, deu consigo a perguntar:

- Pensais que ele consentirá em falar comigo?

- Com certeza. Pedro Afonso é uma alma gentil, que não guarda rancor… E que vos ama e respeita como ninguém!

 

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Imagem daqui

 

 

 

Graças às intervenções de Dona Isabel e do conde Pedro de Barcelos, o rei retirou para Leiria e o infante para Pombal. Em Maio, encontraram-se em Leiria e assinaram um acordo de paz. Dom Dinis, porém, que já passara dos sessenta, foi acometido de doença grave à sua chegada a Lisboa.

 

Ao chegar a Lisboa, confiante que, podendo enfim repousar, o seu estado melhorasse, Dinis constatou o contrário: acordou uma madrugada muito prostrado, confuso da cabeça e sem conseguir articular palavras! Chamaram-se os físicos, que o sangraram, e também a rainha preparou as suas poções, desfazendo-se em mil cuidados e desdobrando-se em rezas.

Passado uns dias, Dinis melhorou um pouco. Embora a fraqueza ainda o impedisse de deixar o leito, viu-se capaz de falar e aproveitou para suplicar à rainha que não o deixasse, sentindo-se muito dependente dela. E, a 20 de Junho daquele ano de 1322, decidiu fazer o seu testamento.

(…)

Nos piores momentos da sua enfermidade, os cuidados e a dedicação de Isabel provaram ser imprescindíveis. O rosto dela iluminava o dia mais triste, a sua voz confortava, a sua serenidade dava confiança e coragem e o toque das suas mãos era bálsamo para almas aflitas. Isabel era a esperança transformada gente, como se Deus houvesse decidido dar uma forma humana a esse sentimento. E, apesar de haver amado outras mulheres e de, muitas vezes, haver odiado a rainha, Dinis não desejaria ter qualquer outra perto de si naquelas horas difíceis.

 

Dom Dinis melhorou. Mas a paz que assinou com o filho foi quebrada cerca de ano e meio mais tarde, depois das Cortes de Lisboa, em Outubro de 1323. A guerra civil entraria na sua última fase.

 

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Dom Afonso IV

 

 

 

 

Os excertos são do meu romance sobre Dom Dinis que pode ser adquirido na LeyaOnline por 6,99 € (clique). Também na Wook.

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publicado por Cristina Torrão às 11:14

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As minhas informações sobre Dom Dinis são baseadas na biografia escrita pelo Professor José Augusto de Sotto Mayor Pizarro (Temas e Debates 2008)
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Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
«O passado dos homens não foi só a sua vida pública. Foi também o jogo ou a luta de cada dia e aquilo em que eles acreditaram», Prof. José Mattoso
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