(com excerto do meu romance)
O romance pode ser adquirido na Leya Online e na Wook.
Ao som dos alaúdes, Pêro Anes Coelho entoou os primeiros versos da cantiga de autoria de Dinis, em que informava a amada do seu amigo que este andava tão triste, que já quase não podia falar:
O voss’ amig’, amiga, vi andar
tam coitado que nunca lhi vi par,
que adur mi podia já falar,
Os outros dois trovadores juntaram-se-lhe no refrão, em que o apaixonado arranjava forças para suplicar que fossem rogar à amada que tivesse mercê dele:
pero quando me viu disse-m’ assi:
«Ai, senhor, id’ a mia senhor rogar
por Deus que haja mercee de mi.»
Era um poema em jeito de recado. A corte e os convidados seguiam encantados como Pêro Anes Coelho anunciava que o coitado perdera o juízo e o ânimo:
El andava trist’ e mui sem sabor,
como quem é tam coitado d’ amor
e perdudo o sem e a color,
E, de novo, se lhe juntaram os outros no refrão:
pero quando me viu disse-m’ assi:
«Ai, senhor, id’ a mia senhor rogar
por Deus que haja mercee de mi.»
Embora descrevesse um sofrimento, a cantiga possuía uma melodia leve e muito ritmo, na mudança entre o solista e o refrão.
El, amiga, achei eu andar tal
como morto, ca é descomunal
o mal que sofr’ e a coita mortal,
pero quando me viu disse-m’ assi:
«Ai, senhor, id’ a mia senhor rogar
por Deus que haja mercee de mi.»
Nota: Todas as Cantigas de Amigo transcritas no meu romance são originais de Dom Dinis, embora seja fictício o contexto em que são inseridas.
