Durante este ano, assinalarei aqui acontecimentos importantes do reinado de Dom Dinis, à medida que forem acontecendo os respetivos aniversários, assim como transcreverei excertos do meu romance sobre o Rei Lavrador.

25
Ago 16

L-Warwick-40.JPG

 

 

 

 

Foto © Horst Neumann

 

 

 

 

 

Dom Dinis é conhecido pelas suas Cantigas de Amigo e de Amor, mas o Rei Poeta também criou Cantigas de Escárnio.

A esse propósito, um excerto do meu romance:

 

                                   Joam Bolo jouv’ em ũa pousada

                                   bem dês ogano que da era passou

                                   com medo do meirinho que lh’ achou

                                   ũa mua que tragia negada;

                                   pero diz el que, se lhi for mester,

                                   que provará ante qual juiz quer

                                   que a trouxe sempre dês que foi nada.

 

            Os nobres encetavam novos protestos contra os resultados das inquirições e Dinis, usando a personagem João Bolo, escarnecia dos fidalgos de província que desobedeciam aos meirinhos régios, usando de todos os subterfúgios para se furtarem às suas obrigações. Dizia o rei na sua cantiga que João Bolo vivia há um ano escondido, com medo de um meirinho que lhe descobrira uma mula roubada. O fidalgote contrapunha que, arranjando bom advogado, provaria perante qualquer juiz que a mula lhe pertencia, pois tinha testemunhas em como a criara desde que nascera, em casa de sua mãe. A melhor testemunha, dizia ele, era mestre Reinel, que tratara de um inchaço que a mula tivera no toutiço:

 

                                   Nom na perderá, se houver bom vogado,

                                   pois el pode per enquisas põer

                                   como lha virom criar e trager

                                   en cas sa madr’, u foi el criado;

                                   e provará per maestre Reinel

                                   que lha gardou bem dez meses daquel

                                   cerro, ou bem doze, que trag’ inchado.

 

            Dinis não tinha mais paciência para os infindáveis protestos, apesar de Isabel insistir em que não os subestimasse.

 

Cover neu3 Dom Dinis 100.jpg

 

O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online, na Wook e na Kobo.

 

Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.

 

Nota: Todas as Cantigas de Amor, de Amigo e de Escárnio transcritas no meu romance são originais de Dom Dinis, embora seja fictício o contexto em que são inseridas.

 

publicado por Cristina Torrão às 11:38

23
Ago 16

 

 

Verificando-se, este mês, o 712º aniversário da Sentença Arbitral de Torrellas, na sequência de um longo processo, no qual Dom Dinis foi o principal medianeiro, aproveito para transcrever um excerto do meu romance alusivo a esta efeméride:

 

Portugueses e aragoneses confraternizaram num banquete. A rainha Branca de Aragão espantou a corte de Isabel com a última novidade vinda de Veneza: um espelho de vidro! As damas pasmavam com a clareza da imagem, acostumadas às folhas de prata polida, ou ao simples reflexo projetado na água. Algumas assustavam-se ao ver-se tão nítidas, descobrindo rugas e defeitos cutâneos e concluindo não apreciarem tais novidades.

A única que não se surpreendeu com a sua imagem foi Isabel, como se a conhecesse desde sempre. De resto, preferia prosear com dois famosos estudiosos aragoneses.

Arnaldo Vilanova, filósofo e alquimista, ligado ao movimento dos espirituais franciscanos, era médico oficial da corte desde o tempo de Pedro III e assumia missões diplomáticas ao serviço de Jaime II.

Raimundo Lulo, um franciscano catalão, igualmente ligado à alquimia, expressava pensamentos que a maior parte dos seus contemporâneos não entendia. Dizia ele, por exemplo, que seria possível alcançar a Índia circum-navegando a África, evitando o Mar Mediterrâneo, a rota comercial dominada pelos sarracenos. E ia mais longe! Numa das suas obras, escrevera: A terra é esférica e o mar também é esférico (…) é necessária uma terra oposta às praias inglesas: existe, pois, um continente que não conhecemos.

A existência de um continente desconhecido assustava e chocava, pois nada disso era mencionado nos mapas da época, que apresentavam Jerusalém como o centro da Terra e o mar como o fim do mundo. Outras almas mais iluminadas, porém, como as da rainha portuguesa e do Mestre dos Templários Frei Vasco Fernandes, fascinavam-se. Os cavaleiros do Templo estavam familiarizados com ideias avançadas e mal compreendidas, eram conhecedores de enigmas, sendo inclusive encarados com desconfiança por personalidades como Filipe IV de França.

No banquete de confraternização entre portugueses e aragoneses, Raimundo Lulo mencionou a intrigante viagem de um italiano à China, Marco Pólo de sua graça, que, volvido à sua terra, ditara as suas aventuras a um companheiro de prisão, Rusticiano de Pisa.

 

Dom Dinis Papel (1).JPG

 

O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online, na Wook, na Kobo e na Amazon.

No Brasil, está disponível na Livraria Saraiva e na Livraria Cultura e a Amazon.com permite o pagamento em dólares.

 

A versão em papel não se encontra à venda nas livrarias, pelo que os interessados devem contactar-me pelo email andancas@t-online.de, ou através de mensagem privada no Facebook.

 

 

publicado por Cristina Torrão às 11:08

18
Ago 16

Cantiga de Amor 1.jpg

 

 

 

 

 

 

Fonte da imagem

 

 

 

 

 

Mais uma passagem do meu romance de Dom Dinis, referente à sua paixão por uma donzela protegida de Dona Isabel e em que o Rei Lavrador revela a sua veia poética:

 

Dinis nunca se vira em tal situação, sempre seguira os seus impulsos, não hesitando em seduzir uma dama que o encantasse. A verdade é que se interessava, pela primeira vez, por uma protegida da rainha. Sempre achara tais moças novas e tímidas demais, um juízo que se acentuara com o passar do tempo. Aquela jovem, porém, ultrapassava todas as suas expectativas, no que respeitava a beleza e graça. Para mal dos seus pecados, também cativava Isabel, era visível a ternura que a rainha nutria por ela, expressada num grande empenho em lhe proporcionar um futuro digno. Branca Lourenço de Valadares não era apenas mais uma protegida de Isabel, era a sua protegida especial!

Assim que recolheu aos seus aposentos, e apesar de extenuado, Dinis sentou-se à sua escrivaninha, expressando o desespero em que viveria, enquanto não declarasse o seu amor:

 

(Tivesse eu tempo e Deus me desse o poder de vos contar o mal que me faz sofrer essa vossa beleza, da qual Deus não fez par; pudesse eu falar-vos e perderia muito do sofrimento que hoje me mata; Deus fez-me amar-vos tanto, que não consigo imaginar como possa continuar a viver, se não acabardes com este meu sofrimento sem igual):

 

                        Senhor, hoj’ houvesse eu vagar

                        e Deus me desse end’ o poder,

                        que vos eu podesse contar

                        o gram mal que mi faz sofrer

                        esse vosso bom parecer,

                        senhor, a que El nom fez par.

 

                        Ca se vos pudess’ i falar,

                        cuidaria muit’ a perder

                        da gram coita e do pesar

                        com que m’ hoj’ eu vejo morrer,

                        ca me nom pod’ escaecer

                        esta coita que nom há par.

 

                        Ca me vós fez Deus tant’ amar,

                        er fez-vos tam muito valer,

                        que nom poss’ hoj’ em mi osmar,

                        senhor, como possa viver,

                        pois que me nom queredes tolher

                        esta coita que nom há par.

 

Dom Dinis Papel (1).JPG

 

 

O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online, na Wook e na Kobo.

 

Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.

 

Nota: Todas as Cantigas de Amor, de Amigo e de Escárnio transcritas no meu romance são originais de Dom Dinis, embora seja fictício o contexto em que são inseridas.

 

 

publicado por Cristina Torrão às 11:27

16
Ago 16

 

 

Celebrando-se, este mês, o 712º aniversário da Sentença Arbitral de Torrellas, na sequência de um longo processo, no qual Dom Dinis foi o principal medianeiro, aproveito para transcrever um excerto do meu romance, alusivo a esta efeméride:

 

As sentenças foram proferidas em Torrellas, a 8 de Agosto. Como combinado, o rei de Portugal, o infante Don Juan e o bispo de Zaragoza Don Ximeno de Luna proferiram a sentença quanto à divisão do reino de Múrcia, estabelecendo o rio Segura como linha divisória, solução que estava longe de agradar a muitos nobres castelhanos, apesar de o mais prejudicado ser um português: o irmão de Dinis! Os senhorios de Elda e Novelda, pertencentes à sua consorte, situavam-se na parte destinada ao monarca aragonês, que os exigia para si próprio, pelo que Afonso e Violante lhos teriam de entregar.

Dinis tentou acalmar o irmão:

- Nada pude fazer para o evitar. Mas o meu genro comprometeu-se a doar-te senhorios de rendimento idêntico em Castela. E sabes que em Portugal, onde igualmente possuis propriedades valiosas, serás sempre bem-vindo!

O irmão limitou-se a encará-lo com o seu olhar amargurado.

Os reis de Portugal e de Aragão e o infante Don Juan de Castela proferiram ainda a sentença quanto às pretensões de Alfonso de la Cerda, que teria de desistir de certos castelos, deixar de usar o tratamento de rei e selo e armas correspondentes. Em compensação, o monarca castelhano comprometia-se a entregar-lhe senhorios que atingissem a renda anual de quatrocentos mil maravedis.

No dia seguinte, Fernando IV e Jaime II aprovaram e aceitaram os termos da sentença, seguindo-se um juramento em que participaram os membros das famílias reais, os representantes das Ordens militares e dos concelhos e os ricos-homens castelhanos e aragoneses. Os monarcas de Portugal, Castela e Aragão declararam-se ainda «amigos dos amigos e inimigos dos inimigos», jurando ainda Dinis e Jaime II amizade para com o rei mouro de Granada, que se fizera vassalo de Fernando IV.

 

O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online, na Wook, na Kobo e na Amazon.

No Brasil, está disponível na Livraria Saraiva e na Livraria Cultura e a Amazon.com permite o pagamento em dólares.

 

 

 

Dom Dinis Série (1).JPG

 

A versão em papel não se encontra à venda nas livrarias, pelo que os interessados devem contactar-me pelo email andancas@t-online.de, ou através de mensagem privada no Facebook.

 

 

publicado por Cristina Torrão às 11:56

11
Ago 16

Cantiga de Amor 1.jpg

 

 

 

 

 

Fonte da imagem

 

 

 

 

 

 

Dom Dinis ficou para a História como um rei mulherengo e, de facto, teve bastantes filhos fora do casamento.

A este propósito, um excerto do meu romance em que o Rei Lavrador se encanta com uma protegida de Dona Isabel, o que lhe trará dissabores:

 

Dinis apercebeu-se que Isabel vinha ao seu encontro. E, ao lado da rainha, uma aparição encantadora paralisou o monarca. Cabelos louros e ondulados, coroados por um diadema de prata, enquadravam uma face alva, onde luziam olhos da cor do mar num dia estival. Um vestido rosa pálido envolvia um corpo bem proporcionado, de peito cheio e cintura fina.

O rosto delicado corou intensamente, quando Isabel lhe anunciou:

- É esta a donzela de quem vos falei!

- De quem… me falastes… - gaguejou Dinis atarantado.

- Mas será possível que constantemente olvideis Dona Branca Lourenço de Valadares?

- Dona…?

Dinis nem queria acreditar! Era aquela a filha do falecido Lourenço Soares de Valadares, que com ele colaborara na corte? A filha de quem o fidalgo chegara a relatar brincadeiras nos verdejantes vales minhotos? A donzela a quem ele haveria de arranjar um esposo…

- Não vos sentis bem? Pareceis um pouco pálido.

As palavras de Isabel trouxeram-no de volta à realidade, dando-se conta de que não podia fazer daquela moça sua barregã. Branca Lourenço de Valadares era uma donzela de apenas dezasseis anos, sob a proteção da rainha. Ele ia a caminho dos trinta e nove…

- Perdoai, foi um dia fatigante. - Concentrou-se em Isabel, a fim de recuperar a sua lucidez: - Principalmente a reunião com Afonso consumiu-me, como podeis calcular.

A rainha olhou na direção do infante:

- Parece-me bem-disposto.

- Com ele, nunca se sabe…

- É verdade. Mas mudemos de assunto, que estamos a confundir Dona Branca. - Virando-se para ela: - Podeis cumprimentar el-rei Dom Dinis!

O monarca pegou na mão frágil que se lhe estendia e, ao segurá-la, sentiu o encanto da juventude, experimentou sensações esquecidas. Depois de uma vénia, a donzela pousou nele os seus olhos azuis mar, espelhando o fascínio que a sua figura lhe causava.

 

Dom Dinis Série (1).JPG

 

 

O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online, na Wook e na Kobo.

 

Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.

 

 

publicado por Cristina Torrão às 11:13

08
Ago 16

 

 

Faz hoje 712 anos que se proferiu a Sentença Arbitral de Torrellas, na fronteira castelhano-aragonesa, estabelecendo a paz definitiva entre Aragão e Castela, o resultado de um longo processo, no qual Dom Dinis foi o medianeiro principal, apoiado pelo papa e pelo rei francês Filipe IV. É por isso estranho que o acontecimento seja praticamente desconhecido entre nós, não sendo referido, quando se enumeram as principais ocorrências durante o reinado do rei Lavrador.

 

Dinis e Isabel - Leiria.jpgEstátuas de Dom Dinis e Dona Isabel em Leiria

 

As disputas entre Aragão e Castela tinham a ver com a sucessão do trono castelhano, assunto por resolver desde a morte do avô de Dom Dinis, Dom Afonso X o Sábio, vinte anos antes. Em Junho de 1304, saiu de Portugal uma solene e enorme comitiva, que incluía quase toda a corte portuguesa. A presença da rainha Dona Isabel era imprescindível, já que o monarca aragonês Jaime II era seu irmão.

 

Isabel e Jaime cumprimentaram-se emocionados. Haviam-se separado há mais de vinte anos, nas idades de onze e catorze respetivamente. Dinis achou-os parecidos, também o cunhado possuía olhos e cabelos negros, estes cortados à altura do pescoço, com a sua franja curta. Jaime, no entanto, não ostentava a palidez da irmã, era robusto, nas suas vestes escarlates, bordadas a fio de ouro.

O herdeiro do trono português foi apresentado ao tio, que lhe elogiou a postura, arrancando-lhe um sorriso e espantando Dinis, que raramente assistia a tal reação por parte do rebento. O monarca aragonês fez ainda questão de mencionar a parecença do moço com o avô Pedro III, embevecendo Isabel. Dinis, por seu lado, ouvia-o contrafeito, apreciaria mais que o príncipe fosse parecido com ele… Como Afonso Sanches!

 

Dom Dinis tinha todo o interesse em que a paz fosse estabelecida na Hispânia, pois, embora Portugal não estivesse diretamente implicado, esta crise passava pela legitimação dos filhos do falecido rei de Castela, Dom Sancho IV. O seu sucessor, Fernando IV, ainda menor, era o noivo da infanta Dona Constança, filha de Dom Dinis e de Dona Isabel.

 

A comitiva portuguesa iniciou a viagem de regresso a 16 de Agosto, passou cinco dias em Valhadolid e só entrou em Portugal a 7 de Setembro.

 

Dom Dinis Papel (1).JPG

 

O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online, na Wook e na Kobo.

 

Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.

 

 

publicado por Cristina Torrão às 11:42

06
Ago 16

 

 

A justificação mais comum para o cognome de Dom Dinis é o facto de ele ter mandado plantar o pinhal de Leiria. É uma justificação um pouco redutora, por duas razões:

- em primeiro lugar, Dom Dinis fomentou a agricultura em todas as suas vertentes;

- em segundo lugar, talvez tenha mandado plantar mais pinhais. O pinheiro bravo cresce depressa e Dom Dinis terá apostado nesta espécie, a fim de dar resposta ao consumo exorbitante de madeira que se verificava na Idade Média.

 

Dinis e Isabel - Leiria.jpg

 

 

Estátuas de Dom Dinis e Dona Isabel em Leiria

 

 

 

 

A este pretexto, um excerto do meu romance:

 

Urgia criar novos espaços agrícolas. Excetuando os vales férteis do norte do reino, os solos de argila arenosa não eram muito produtivos e a maior parte deles encontrava-se esgotada, ao mesmo tempo que a população crescia. Havia que aproveitar terrenos até ali insalubres, não só para produção de pão, vinho e azeite, mas também para o cultivo de leguminosas e fruta e o ganho de linho, burel e estopa.

Dinis aprendera com o pai a fomentar a agricultura e celebrava contratos minuciosos com os agricultores dos reguengos, chegando ao ponto de, no caso da vinha, neles mencionar a conveniente adubação, ou a renovação das cepas mortas por meio da mergulhia ou do plantio de novas vides, passando pela escava, cava, sacha, poda e empa.

Frei Martinho de Alcobaça explicava ao seu soberano como se fariam as abertas e quais as culturas que melhor se dariam no Paul de Ulmar. Assim que a drenagem estivesse concluída, Dinis distribuiria as terras, formando grupos de casais ou aldeamentos, em que os moradores seriam foreiros, ou seja, pagariam o foro à Coroa, que normalmente consistia num quarto daquilo que a terra produzisse.

Próximo da praia, apontando para as vastas dunas, o cisterciense declarou:

- As ventanias vindas do mar arrastam a areia para o interior, acabando por cobrir as terras aráveis. - Apontou para uma zona de floresta de pinheiro manso e acrescentou: - As árvores protegem os campos, mas são cada vez menos.

Dinis estava a par do problema da desertificação das florestas, a fim de satisfazer o consumo exorbitante de madeira, necessária à construção de travejamentos, tetos e soalhos, para não falar dos móveis e utensílios domésticos. Além disso, consistia praticamente no único material com que eram construídos estábulos, adegas, espigueiros e moinhos e servia ainda para aprestos agrícolas, desde forquilhas, ao carro e ao arado. A madeira era ainda o principal combustível. Sem lenha, não havia pão, alimentos cozinhados, nem um mínimo de conforto no Inverno. Dela se faziam igualmente estacaria para amparar culturas ou levantar vedações e fertilizantes do solo, quer através de folhagens apodrecidas, quer de cinzas, que serviam ainda para produzir sabão.

Como conciliar tão grande consumo com o travar da desertificação das florestas?

Dinis sabia que o pinheiro pertencia ao género de árvores que mais lestas cresciam e Frei Martinho acrescentou:

- O pinheiro bravo ainda se desenvolve mais rápido do que o manso, além de dar muito pez e resina. E com as agulhas, que se conservam muito tempo sem apodrecer, também se faz bom lume.

- Tomarei providências para que seja aumentada esta área florestal, substituindo o pinheiro manso pelo bravo, a fim de não só abastecer as populações de madeira, mas também evitar que a areia cubra as terras aráveis… Um procedimento que poderá aliás ser usado noutras zonas costeiras.

 

Cover neu3 Dom Dinis 100.jpg

 

O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online, na Wook e na Kobo.

 

Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.

 

publicado por Cristina Torrão às 14:53

28
Jul 16

Os desentendimentos entre Dom Dinis e o seu herdeiro refletiram-se na sua relação com a rainha Dona Isabel, acusada, por ele, de se pôr ao lado do filho.

 

Dinis levantou-se irado, deixando o local sem proferir palavra. A caminho dos seus aposentos, porém, notou que Isabel o alcançava e lançou-lhe por cima do ombro:

- Nada tenho para falar convosco!

- Pois eu tenho algo para vos dizer!

Mais furioso do que nunca, resmungou, apressando os seus passos:

- Não estou interessado.

- Porque nunca vos interessais pelo que diz respeito ao vosso próprio herdeiro?

Dinis estacou. Na verdade, sentia a fúria dar lugar a um vago sentimento de culpa. Teria Isabel razão? Seria ele o responsável pela sede de protagonismo do filho? Sentia-se Afonso preterido em relação ao meio-irmão?

Virou-se para Isabel e confessou:

- Afonso não é o herdeiro com que eu sonhei.

- Afonso é o herdeiro que Deus vos deu! Não devíeis provocar a sua ira!

O rei tornou a exaltar-se:

- Eu ajo como bem entendo, com quem bem entendo!

Isabel declarou, como se proferisse uma sentença:

- Quem a ira semeia, a ira colherá!

 

 

Dom Dinis Série (1).JPG

 

O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online, na Wook e na Kobo.

 

Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.

 

 

publicado por Cristina Torrão às 11:47

20
Jul 16

Excerto do meu romance, respeitante ao terceiro manifesto apresentado por Dom Dinis contra o seu filho e herdeiro, futuro Dom Afonso IV:

 

Dinis não descortinava maneira de prever o futuro. Nada mais lhe restava do que dar o contributo que achava adequado para o findar das calamidades: apresentou, a 17 de Dezembro, apenas uma semana depois do sismo, o seu terceiro manifesto, mais violento. Dirigia-o ao concelho de Lisboa, de quem pretendia, entre outros, apoio militar.

Mais uma vez, relatava os desmandos e violências perpetrados pelos apoiantes do príncipe, muitos deles degredados e malfeitores. E ia mais longe: escarnecia da intromissão da rainha e do apoio que o infante havia solicitado a Aragão, pois os que acompanhavam o filho nada tinham que devessem à rainha e o próprio príncipe nada tinha que viesse de Aragão, mas sim apenas do rei, seu pai. Concluía, desnaturando o filho: o Infante, pelas obras em que andou e anda e pelos seus cometimentos feitos até aqui, e que agora faz atacando o Rei, desnaturou-se do Rei e da sua terra e dos seus naturais.

 

O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online, na Wook e na Kobo.

 

Dom Dinis Papel (1).JPG

 

Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.

publicado por Cristina Torrão às 11:14

18
Jul 16

Dom Dinis Série (1).JPG

 

 

Mais uma cena de desentendimento entre Dom Dinis e o filho Dom Afonso:

 

A sentença do tribunal régio no processo dos herdeiros do 1º conde de Barcelos foi proferida a 3 de Janeiro de 1312. E, se já se previam vantagens para Afonso Sanches, a proporção do favorecimento acabou por surpreender! Martim Gil de Riba de Vizela, apesar de ainda não ser velho, foi-se muito abaixo, por andar enfermo. Resolveu abandonar o reino, exilando-se em Castela, nem os pedidos do infante herdeiro e do fidalgo aragonês Raimundo de Cardona o conseguiram demover da sua decisão.

- Como pudestes consentir tal? - O olhar do príncipe, normalmente enigmático, mostrava ao pai a tristeza e a indignação: - Levar um homem enfermo a exilar-se, um varão que tão bem serviu o reino!

- Exilou-se de sua própria vontade - retorquiu Dinis impassível.

Afonso fechou a mão num punho, apertando-a com toda a força:

- E tudo apenas para favorecerdes ainda mais o vosso bastardo!

Naquele punho tremente, Dinis constatou que a aproximação entre ele e o filho, operada com algum custo, nos últimos dois anos, estabelecera apenas uma ligação ténue, que ameaçava soçobrar sob o peso do exílio voluntário do 2º conde de Barcelos.

 

 

O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online, na Wook e na Kobo.

 

Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.

 

 

publicado por Cristina Torrão às 11:08

Andanças Medievais
O meu outro blogue Andanças Medievais A minha página no Facebook Andanças Medievais
Informação
As minhas informações sobre Dom Dinis são baseadas na biografia escrita pelo Professor José Augusto de Sotto Mayor Pizarro (Temas e Debates 2008)
Dezembro 2016
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9
10

11
13
14
15
16
17

19
20
21
22
23
24

25
26
27
28
29
30


pesquisar
 
Viagem Medieval
O reinado de Dom Dinis é o tema da próxima Viagem Medieval em Terra de Santa Maria
mais sobre mim
Vamos salvar o túmulo do rei D. Dinis
Uma página do Facebook que alerta para a necessidade de se restaurar o túmulo de Dom Dinis no mosteiro de Odivelas.
favoritos

Hera

História
Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
«O passado dos homens não foi só a sua vida pública. Foi também o jogo ou a luta de cada dia e aquilo em que eles acreditaram», Prof. José Mattoso
Que a História também dos fracos reze!
Não há História verdadeira sem a versão dos vencidos.
blogs SAPO