Durante este ano, assinalarei aqui acontecimentos importantes do reinado de Dom Dinis, à medida que forem acontecendo os respetivos aniversários, assim como transcreverei excertos do meu romance sobre o Rei Lavrador.

06
Ago 16

 

 

A justificação mais comum para o cognome de Dom Dinis é o facto de ele ter mandado plantar o pinhal de Leiria. É uma justificação um pouco redutora, por duas razões:

- em primeiro lugar, Dom Dinis fomentou a agricultura em todas as suas vertentes;

- em segundo lugar, talvez tenha mandado plantar mais pinhais. O pinheiro bravo cresce depressa e Dom Dinis terá apostado nesta espécie, a fim de dar resposta ao consumo exorbitante de madeira que se verificava na Idade Média.

 

Dinis e Isabel - Leiria.jpg

 

 

Estátuas de Dom Dinis e Dona Isabel em Leiria

 

 

 

 

A este pretexto, um excerto do meu romance:

 

Urgia criar novos espaços agrícolas. Excetuando os vales férteis do norte do reino, os solos de argila arenosa não eram muito produtivos e a maior parte deles encontrava-se esgotada, ao mesmo tempo que a população crescia. Havia que aproveitar terrenos até ali insalubres, não só para produção de pão, vinho e azeite, mas também para o cultivo de leguminosas e fruta e o ganho de linho, burel e estopa.

Dinis aprendera com o pai a fomentar a agricultura e celebrava contratos minuciosos com os agricultores dos reguengos, chegando ao ponto de, no caso da vinha, neles mencionar a conveniente adubação, ou a renovação das cepas mortas por meio da mergulhia ou do plantio de novas vides, passando pela escava, cava, sacha, poda e empa.

Frei Martinho de Alcobaça explicava ao seu soberano como se fariam as abertas e quais as culturas que melhor se dariam no Paul de Ulmar. Assim que a drenagem estivesse concluída, Dinis distribuiria as terras, formando grupos de casais ou aldeamentos, em que os moradores seriam foreiros, ou seja, pagariam o foro à Coroa, que normalmente consistia num quarto daquilo que a terra produzisse.

Próximo da praia, apontando para as vastas dunas, o cisterciense declarou:

- As ventanias vindas do mar arrastam a areia para o interior, acabando por cobrir as terras aráveis. - Apontou para uma zona de floresta de pinheiro manso e acrescentou: - As árvores protegem os campos, mas são cada vez menos.

Dinis estava a par do problema da desertificação das florestas, a fim de satisfazer o consumo exorbitante de madeira, necessária à construção de travejamentos, tetos e soalhos, para não falar dos móveis e utensílios domésticos. Além disso, consistia praticamente no único material com que eram construídos estábulos, adegas, espigueiros e moinhos e servia ainda para aprestos agrícolas, desde forquilhas, ao carro e ao arado. A madeira era ainda o principal combustível. Sem lenha, não havia pão, alimentos cozinhados, nem um mínimo de conforto no Inverno. Dela se faziam igualmente estacaria para amparar culturas ou levantar vedações e fertilizantes do solo, quer através de folhagens apodrecidas, quer de cinzas, que serviam ainda para produzir sabão.

Como conciliar tão grande consumo com o travar da desertificação das florestas?

Dinis sabia que o pinheiro pertencia ao género de árvores que mais lestas cresciam e Frei Martinho acrescentou:

- O pinheiro bravo ainda se desenvolve mais rápido do que o manso, além de dar muito pez e resina. E com as agulhas, que se conservam muito tempo sem apodrecer, também se faz bom lume.

- Tomarei providências para que seja aumentada esta área florestal, substituindo o pinheiro manso pelo bravo, a fim de não só abastecer as populações de madeira, mas também evitar que a areia cubra as terras aráveis… Um procedimento que poderá aliás ser usado noutras zonas costeiras.

 

Cover neu3 Dom Dinis 100.jpg

 

O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online, na Wook e na Kobo.

 

Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.

 

publicado por Cristina Torrão às 14:53

Andanças Medievais
O meu outro blogue Andanças Medievais A minha página no Facebook Andanças Medievais
Informação
As minhas informações sobre Dom Dinis são baseadas na biografia escrita pelo Professor José Augusto de Sotto Mayor Pizarro (Temas e Debates 2008)
Agosto 2016
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9
10
12

14
15
17
19

21
22
24
26
27

28
30
31


pesquisar
 
Viagem Medieval
O reinado de Dom Dinis é o tema da próxima Viagem Medieval em Terra de Santa Maria
mais sobre mim
Vamos salvar o túmulo do rei D. Dinis
Uma página do Facebook que alerta para a necessidade de se restaurar o túmulo de Dom Dinis no mosteiro de Odivelas.
favoritos

Hera

História
Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
«O passado dos homens não foi só a sua vida pública. Foi também o jogo ou a luta de cada dia e aquilo em que eles acreditaram», Prof. José Mattoso
Que a História também dos fracos reze!
Não há História verdadeira sem a versão dos vencidos.
blogs SAPO